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Antecipar cúpula de líderes dá espaço para negociação, diz CEO da COP30
Ana Toni diz à CNN que proposta do governo permite mais tempo para debates complicados na cúpula do clima
Brasil
Publicado em 11/03/2025

A CEO da COP30, Ana Toni, defendeu a proposta do Brasil de antecipar a reunião de chefes de Estado e de governo na conferência do clima, em Belém, afirmando que isso daria mais espaço para as difíceis negociações do evento.

O governo brasileiro pediu à ONU para fazer a cúpula dos líderes alguns dias antes da abertura formal da COP, que ocorrerá entre os dias 10 e 21 de novembro, como uma forma de diminuir a sobrecarga no setor hoteleiro de Belém.

Pelo menos 40 mil pessoas costumam participar desses eventos anuais e existem dúvidas se a capital do Pará conseguirá acomodar a todos.

Em entrevista exclusiva à CNN Brasil, Ana Toni afirmou que a ideia ajudará não apenas com a questão logística, mas também com a ampliação do número de dias dedicados exclusivamente à negociações climáticas.

Secretária de Mudanças do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, durante audiência pública na Comissão Especial da Câmara sobre Prevenção e Auxílio a Desastres e Calamidades Naturais, em 14 de maio de 2024
Secretária de Mudanças do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, durante audiência pública na Comissão Especial da Câmara sobre Prevenção e Auxílio a Desastres e Calamidades Naturais, em 14 de maio de 2024 • Lula Marques/Agência Brasil

Esse fator é importante porque as decisões de todas as COPs são tomadas por consenso entre os quase 200 países participantes e o tempo escasso de debate costuma complicar as conversas.

“Essa ideia casou com a necessidade de ampliar o espaço de negociações”, disse a CEO da COP30, que também é secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente do Brasil.

“Não é só pela razão logística. O que a gente vem percebendo em todas as COPs é que o encontro dos líderes costuma ser no mesmo dia que começa a COP. Ou seja, a COP (propriamente dita) não começa nesse dia, porque a maioria dos negociadores está com os seus líderes”, ela afirmou.

“Então, as negociações que deveriam começar numa segunda-feira, acabam começando numa quarta ou quinta-feira. Daí sobra menos tempo para negociação, porque os líderes estão lá e, obviamente, os ministros e os negociadores têm que ajudar os seus líderes”, acrescentou.

Ana Toni fala por experiência própria, já que ela é muito respeitada internacionalmente na área de meio ambiente e foi crucial em muitas negociações de COPs anteriores.

“Já havia muita conversa de como assegurar o espaço e o tempo da negociação sem que tivesse uma competição com a reunião de líderes. Então, casou com essa ideia de a gente pensar na reunião de líderes antes do começo da COP. Assim, a gente não estrangula a negociação que duraria os 10 dias”, ela afirmou.

Críticas da sociedade civil

A ideia, no entanto, é criticada por ONGs e entidades que monitoram os trabalhos relacionados às mudanças climáticas porque uma reunião antes do início da COP afastaria os líderes de encontros com a sociedade civil, que só chegaria para o evento em si.

E esse é um fator importantíssimo nas cúpulas do clima, já que o contato próximo e direto com os líderes dão oportunidades para as organizações colocarem pressão diretamente sobre eles para tomem posições concretas contra o aquecimento global.

Ana Toni diz que a organização da COP está dialogando com entidades da sociedade civil para garantir que elas também participem de alguma forma dos encontros com líderes.

Além disso, ela afirma, a pressão sobre os governantes precisa acontecer em outros locais também.

“Este é um ano onde os países entregam as suas NDC’s (as metas individuais de cada nação para combater as mudanças climáticas). Então, os líderes deveriam estar sentindo a pressão da sociedade civil dos seus países (enquanto elaboram esses documentos). Então a gente espera ver cada vez mais mobilização nos países que ainda não colocaram as suas NDC’s na mesa. Que a sociedade civil, a imprensa e outros façam muita pressão dentro dos seus países. Isso é o fundamental”, ela acrescenta.

Segundo Ana Toni, a intenção é que o encontro aconteça na própria cidade de Belém, dando ainda a oportunidade para que os líderes mundiais tenham algum tempo para conhecer melhor a realidade da Amazônia.

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